OIT conclama os BRICS a aproveitarem o momento e fortalecerem os esforços globais por justiça social com adoção de declaração histórica sobre IA e Transição Justa.

Brasília, Brasil (Notícias da OIT) — Em 25 de abril de 2025, na Reunião dos Ministros do Trabalho e Emprego dos BRICS (LEMM), o Diretor-Geral da OIT, Gilbert F. Houngbo, convocou os países BRICS a liderarem um novo futuro do trabalho, centrado na justiça social. O apelo veio num momento de fortes impactos da inteligência artificial (IA) e da transição para economias sustentáveis. Em mensagem em vídeo, Houngbo elogiou a presidência brasileira por promover a cooperação Sul-Sul e triangular.

“A Declaração dos BRICS coloca corretamente o futuro do trabalho, a justiça social e a transição justa no centro”, disse Houngbo. “Enfrentamos enormes desafios — da disrupção causada pela IA à crise climática —, mas também grandes oportunidades, especialmente no Sul Global.”

Com economias significativas e setores tecnológicos de ponta, os BRICS têm uma “oportunidade única de moldar padrões globais”, destacou ele, acrescentando: “para a estabilidade das nossas sociedades, ninguém pode ser deixado para trás”.

IA a serviço do trabalho decente

A Diretora-Geral Adjunta da OIT, Laura Thompson, reforçou que a IA não precisa ampliar desigualdades, desde que o uso seja orientado por diálogo social e princípios de equidade. Os BRICS estão em posição privilegiada para liderar esse processo por meio da cooperação Sul-Sul.

Transição Justa: empregos verdes e inclusão

Thompson destacou a urgência de proteger os trabalhadores vulneráveis, especialmente os informais. Dados da OIT mostram: 1,2 bilhão de empregos ameaçados por colapso ecológico; 2,4 bilhões de trabalhadores expostos a calor extremo; e até 216 milhões de deslocados por mudanças climáticas.

Por outro lado, os empregos em energia limpa já superam os do setor fóssil, e soluções baseadas na natureza podem gerar até 32 milhões de novos empregos até 2030. A OIT pediu que os BRICS invistam em qualificação para jovens, mulheres, migrantes e trabalhadores informais.

Proteção Social Universal: uma urgência

A Declaração do LEMM sublinha a necessidade de proteção social universal num mundo do trabalho em transformação. Trabalhadores de plataformas digitais, por exemplo, enfrentam ausência de segurança básica; 83% da população em países vulneráveis ao clima não têm cobertura.

“Chegou o momento de repensar a proteção social para o século XXI”, afirmou Thompson. “Ela deve ser inclusiva, flexível e transferível — especialmente para os migrantes.”

Houngbo destacou iniciativas nacionais inovadoras, como o SENAI (Brasil), Workforce 4.0 (Rússia), qualificação digital (Índia), ensino técnico (China) e autoridades setoriais (África do Sul). A cooperação Sul-Sul Brasil-OIT representa uma via promissora para ampliar esses esforços.

Uma Coalizão Global pela Justiça Social

Com a COP30 se aproximando, a OIT encorajou os BRICS a unirem políticas climáticas, trabalhistas e sociais em uma agenda transformadora. Reiterou seu apoio por meio da Coalizão Global pela Justiça Social.

“Os BRICS têm a chance de transformar a narrativa global — colocando o trabalho decente, a justiça climática e a proteção social no centro do desenvolvimento sustentável”, concluiu Houngbo.

O LEMM de 25 de abril concentrou-se na cooperação em IA e transição justa. Foi anunciada a criação de um escritório virtual dos BRICS e um observatório de proteção social. A declaração também reconhece a plataforma de produtividade dos BRICS e a criação da Rede de SST, lançada pela Rússia em 2024. Houve ainda diálogo com a delegação indiana sobre sua futura presidência em 2026.

Entre 22 e 24 de abril, a OIT organizou o evento “Tecnologias Emergentes e Novas Fronteiras para o Emprego nas Transições Justas” com mais de 20 especialistas de países BRICS. Foram feitas propostas concretas e um plano de ação para garantir uma digitalização mais justa do trabalho.